segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dixit - Arlindo Cunha


Decidimos, hoje, dar voz à classe politica sobre a temática ambiental em Portugal, entrevistando o político Arlindo Cunha.



Geozenite - Temos conhecimento de que já ocupou os cargos de Ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação e Ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente.
G.Z - Durante quanto tempo ocupou esses cargos? O que mudou desde essa altura?

Dr.Arlindo Cunha - No Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação estive oito anos, de 1986 a 1994. No Ministério do Ambiente estive apenas uns escassos meses, pois o Primeiro Ministro de então, Dr. José Manuel Durão Barroso, decidiu aceitar o cargo de Presidente da Comissão Europeia em Julho de 2004, e eu não quis ficar para o Governo que se lhe seguiu.

As mudanças estruturais são sempre lentas. Por isso não é fácil dizer com rigor o que mudou no ambiente, já que passou ainda muito pouco tempo desde que saí do Ministério. Mas em relação à agricultura, já são visíveis algumas mudanças, umas boas e outras menos boas. Em relação às primeiras, é notório que temos hoje uma agricultura com mais qualidade e mais competitiva, sobretudo em sectores como o vinho, as frutas, o azeite e os lacticínios. Quanto às segundas, evidencia-se a aceleração de uma tendência de abandono das nossas terras agrícolas e de desertificação do interior do nosso país que se traduz numa irreparável perda de património, humano, cultural, monumental e paisagístico.

G.Z - Qual a sua visão sobre o período em que lá esteve? Pensa que as decisões que tomou foram importantes para o desenvolvimento das áreas em questão no nosso país?
AC - Na agricultura e nas pescas passámos tempos difíceis, pois tivemos que aplicar as políticas da União Europeia (que à época se chamava Comunidade Económica Europeia – CEE) a partir de 1 de Janeiro de 1986, data da adesão de Portugal. Quer a Política Agrícola Comum (PAC), quer a Política Comum de Pescas exigiram aos nossos agricultores e pescadores um enorme esforço de adaptação.
Eram sectores com um considerável atraso estrutural e que com a adesão à CEE tiveram que se preparar de forma acelerada para defrontar a concorrência dos seus parceiros comunitários. Mas se não fosse esse choque competitivo, estou convencido de que estaríamos hoje bem pior. Na verdade, nenhum sector da economia se moderniza e desenvolve se não tiver o impulso da concorrência. Também foi nessa altura que fizemos uma reforma muito profunda da PAC, por forma a adaptá-la melhor aos desafios dos novos tempos.

Quanto ao ambiente, o tempo não deu para tomar muitas decisões. Mas tenho orgulho em ter desbloqueado em dois meses a barragem do Baixo Sabor, que era um processo que andava emperrado há mais de dez anos e que sucessivos governos iam protelando por receio das reacções de certos grupos de pressão a que eu chamo pseudo-ecologistas.

G.Z - Quais as suas perspectivas em relação ao presente e ao futuro?
AC - Esta é uma pergunta tão vasta que dava, não para uma entrevista, mas para escrever vários livros!
Espero, obviamente, que o futuro seja melhor. Que a nossa agricultura e as nossas pescas continuem a existir, em moldes ainda mais modernos, pois precisamos muito destes sectores, não só para a nossa sobrevivência, mas também para o nosso equilíbrio enquanto sociedade.
Quanto ao ambiente, é fundamental que o nosso país e os governos do mundo inteiro tomem consciência de que se não levarem a sério os problemas ambientais, a nossa sobrevivência poderá estar em causa. Mas, impõe-se dizê-lo, não se trata apenas de uma responsabilidade dos governos, mas na verdade, de todos nós, que temos que ser ao mesmo tempo críticos, responsáveis e coerentes.

G.Z - Concorda com a afirmação “A água é o ouro líquido do século XXI”?
AC - Concordo plenamente. Daí a importância da utilização de tecnologias de transporte e utilização de água que sejam mais eficientes do que as actuais, que se construam novas barragens, que se apliquem políticas de preservação da qualidade e da boa gestão dos recursos hídricos e que se eduquem as pessoas a utilizar racionalmente e com parcimónia este recurso único e incontornável para as nossas vidas.

G.Z - Diga-nos uma frase ou uma palavra que caracterize a questão ambiental em Portugal...
AC - Enquanto país temos ainda muito que trabalhar para resolver de forma sustentável os nossos problemas ambientais; e enquanto cidadãos temos que progredir bastante em matéria de educação cívica ambiental.

1 comentário:

Magnífico Reitor disse...

Ena, ena, uma entrevista com o Dr. Arlindo Cunha ? Este blog está a evoluir. O entrevistado é das pessoas que sabem mais sobre ambiente e economia na Europa toda, sabiam ? Parabéns